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quarta-feira, 28 de fevereiro de 2018

Galileu não se enganou

Galileu, o conhecido cientista italiano (1564-1642), tem agora a sua hipótese confirmada experimentalmente: os objetos caem todos ao mesmo tempo, se lançados simultaneamente e da mesma altura, e se livres da resistência do ar. Foi feita a experiência, recentemente, com uma bola de boliche e algumas penas de avestruz. No primeiro lançamento, a bola de madeira caiu velozmente sobre uma caixa com areia enquanto as penas se espalharam lentamente em volta. O segundo lançamento foi feito no mesmo espaço, uma sala com 800 000 pés cúbicos, mas já sem ar. A operação para conseguir o vácuo, demorou três horas e foi dispendiosa. Desta vez, a bola e as penas caíram simultaneamente e em conjunto, isto é, as penas não se separaram entre si nem da bola de boliche, pois não havia ar que lhes opusesse resistência ou as afastasse. É excitante, sobretudo para os cientistas, descobrir ou intuir os segredos da criação e, depois, constatar experimentalmente que as suas hipóteses são verdadeiras.

O mundo, a criação, não é apenas material, é também espiritual. O próprio homem não é apenas corpo, mas também espírito. Por enquanto, só nos apercebemos da íntima relação existente entre o nosso corpo e o nosso espírito quando, por exemplo, sentimos o corpo abatido ao sofrermos um desgosto, ou quando perdemos temporariamente a memória após uma operação cirúrgica ou um acidente. Depois da morte, a nossa relação com os seres espirituais será bem real, e de enorme felicidade, se tivermos vivido segundo os desígnios do Criador. Só então poderemos constatar a verdade daquilo que ouvimos de Jesus que, mais do que Galileu, não se engana nem nos engana.

Na Quaresma, somos incentivados a ser corajosos e generosos: corajosos para agir com valentia, fazendo o que nos custa (mortificação, sacrifício) e generosos, oferecendo aos outros aquilo que poderíamos legitimamente reservar para nós (a esmola de bens materiais para os vivos; a esmola de bens espirituais por vivos e defuntos). É neste breve período de quarenta dias que somos convidados a esvaziar-nos do ar dos nossos egoísmos, para nos podermos ir aproximando da verdade. Talvez, como Galileu, necessitemos de mais de três séculos para nos libertarmos completamente desse ar que nos impede presenciar a Verdade cara a cara. Felizmente, temos bastante mais do que a hipótese de Galileu para fundamentar a nossa Fé. Os meios para chegar à perfeição necessária são excelentes e eficazes - os sacramentos -, bem melhores e seguros que a câmara de vazio usada no século XX: o Batismo limpa-nos do pecado original; a Confissão, tão útil e tão esquecida, apaga os pecados veniais e mortais; a Eucaristia, recebida em estado de graça, apaga os pecados veniais e dá-nos energia para desenvolver as virtudes; a Confirmação fortalece a nossa alma na defesa da Fé; o Matrimónio - sacramento grande, como lhe chama S. Paulo, por representar a união de Cristo com a sua Igreja – ajuda os cônjuges a manter o seu compromisso mútuo de amor, generosidade e fidelidade; a Ordem, confere poderes divinos aos homens que, generosamente, o recebem: eles podem perdoar os pecados no sacramento da confissão e trazer Deus à terra em cada Missa que celebram; a Unção de Enfermos confere as graças necessárias para sofrer com paciência os sofrimentos, para vencer as tentações próprias da doença e da agonia e, se Deus achar ser para bem, conceder mais algum tempo de vida com saúde.

Com esta experiência de vida, estamos mais seguros do que Galileu.

Isabel Vasco Costa



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