Páginas

sábado, 10 de março de 2018

Salvos pela fé em Cristo


1 – Vamos celebrar e viver o grande acontecimento da Páscoa, a passagem de Deus em nossas vidas. Deus, o Senhor da morte e da vida, passa semeando vida e semeando morte. Tal como visitou o povo de Israel no Egito para lhes abrir as portas do cativeiro e os conduzir amorosamente pelo deserto rumo à Terra Prometida, tal como libertou da morte o Seu Filho Jesus Cristo ressuscitando-O, assim também na Páscoa deste ano o Senhor vai passar para dar vida aos escravizados e mortos pelo pecado que anseiam passar com Jesus Cristo da morte para a vida. Festa da Primavera, a Páscoa é-nos trazida pelo calendário, todos os anos, entre março e abril. Mas a vivência da Páscoa é uma realidade espiritual que temos de preparar bem.

Nem todos os judeus saíram do Egito. Ficaram lá aqueles que colaboravam com o faraó na opressão dos seus irmãos e que não trocaram as seguranças que tinham por uma aventura no deserto. Mas também saíram do Egito alguns estrangeiros que lá eram oprimidos e viviam mal: aproveitaram a porta aberta por Deus e seguiram com Moisés e com o povo de Israel. A Páscoa vem à nossa procura e pergunta-nos se somos escravos, ou filhos do Maligno. Os escravos têm fome e sede de justiça, desejam sair para a liberdade, e recebem vida. Os filhos permanecem em casa onde se sentem bem, mas recebem morte, tal como aconteceu aos primogénitos dos egípcios. 

2 – Tirada do Segundo Livro das Crónicas, a primeira leitura do próximo domingo diz-nos, em poucos parágrafos, a dura experiência do cativeiro de Babilónia que foi sepultura para a soberba do povo de Israel e seio de onde Deus fez surgir a vida nova do judaísmo. Essa foi uma experiência coletiva de morte e de ressurreição muito marcante, uma palavra forte de Deus que humilhou e exaltou o seu povo. De facto, o povo de Israel experimentou que o seu Deus é Santo, é o único Deus verdadeiro que rege e governa todos os povos. Ele não teve dificuldade em castigar aquela geração que escarnecia dos Seus enviados, desprezava as Suas palavras e se ria dos profetas que Ele enviara para admoestar o Seu povo. Mas foi também Ele o Deus grande e maravilhoso que libertou o Seu povo da escravidão de Babilónia realizando um novo Êxodo, tal como outrora o subtraíra ao poder do faraó. E é ainda Ele que, em cada Páscoa, vai passar para dar vida àqueles pobres que, apoiados apenas nas suas forças, de modo nenhum se poderiam abrir à esperança de um futuro feliz. 

3 – No evangelho, na parte final do discurso a Nicodemos, Jesus, falando de si próprio, diz que teria de ser elevado (quer dizer, crucificado e também glorificado) tal como outrora, no deserto, fora levantada por Moisés a serpente de bronze para ser vista por aqueles que eram mordidos por serpentes venenosas. Segundo a promessa do Senhor, não morreriam os judeus mordidos que olhassem para aquela serpente de bronze.  De facto, todo o pecador que contempla Jesus crucificado e n’Ele acredita, reconhecendo n’Ele a máxima expressão do grande amor que nos tem o Pai que no-l’O enviou, torna-se amigo de Deus e herdeiro da Vida Eterna. Por isso, nós cristãos precisamos de olhar para Cristo Crucificado. Precisamos de acreditar n’Ele e de O reconhecer como o Salvador, como o Filho enviado pelo Pai ao mundo, não para o condenar, mas para o salvar. Precisamos certamente de contemplar a Sua imagem, sobretudo nos momentos de tentação, para que nada nos separe do Seu amor. Sim, nós precisamos de ter connosco o crucifixo, no qual podemos ver como os nossos pecados matam o Filho de Deus. No crucifixo resplandece também a resposta de Deus que O ressuscita para nos conceder o perdão. Em Cristo crucificado podemos ainda contemplar o caminho que nos leva ao Céu e nos abre as suas portas, pois os que são de Cristo crucificaram a carne com suas paixões e apetites (Gl 5,24).

4 – Acreditando em Jesus, a nossa vida fica unida à Sua: morremos com Ele, ressuscitamos com Ele, e com Ele somos glorificados à direita do Pai, sentados com Ele nos Céus. Destino glorioso, o nosso! E a glória que nos espera, tal como podemos ver na leitura da Carta aos Efésios, é sublinhada pelo facto de termos sido encontrados e salvos por Jesus quando estávamos mortos por causa dos nossos pecados. Reparai na força destas palavras que antecedem e introduzem a segunda leitura do próximo domingo: Vós estáveis mortos em vossos delitos e pecados. Neles vivíeis outrora, conforme a índole deste mundo, (…) o espírito que agora opera nos filhos da desobediência. Com eles também nós andávamos outrora nos desejos da carne, satisfazendo as vontades da nossa carne e os seus impulsos, e éramos, por natureza, como os demais, filhos da ira. Mas Deus, que é rico em misericórdia, pelo grande amor com que nos amou, quando estávamos mortos em nossos delitos, vivificou-nos juntamente com Cristo. Pela graça fostes salvos (Ef 2,1-5)!

Como são verdadeiramente grandes estas palavras, queridos irmãos! Elas descrevem a situação da qual o Senhor nos libertou ao transferir-nos para o Reino do Seu amado Filho!

5 – Justificados pela fé, estamos em paz com Deus por Nosso Senhor Jesus Cristo (Rm 5,1). É verdade que vivemos já libertos da escravidão do faraó, mas ainda estamos a caminho da Terra Prometida. Já deixámos o Egito para trás, mas ainda trazemos dentro de nós os seus esquemas. Já fomos batizados, mas ainda não vivemos plenamente como cristãos. Os nossos pecados foram já perdoados, mas continuamos tropeçando e caindo, e também nos levantamos com a ajuda do Senhor. Reconheçamos irmãos, a nossa dignidade de Filhos adotivos de Deus e alegremo-nos! Unidos a Cristo participamos da sua realeza e do seu sacerdócio. Somos uma nação santa e um povo adquirido por Deus, mas precisamos de confirmar essa eleição divina praticando as obras de Jesus, Filho de Deus e Nosso Senhor. Para isso a Igreja nos dá o tempo da Quaresma. Aproveitemo-lo bem!



Sem comentários:

Enviar um comentário