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quinta-feira, 5 de abril de 2018

Agradecer a Deus por Tudo o que é Bom e Belo

Com alguma frequência encontramo-nos tão absorvidos nas nossas preocupações quotidianas que nos esquecemos de observar tudo o que é bom e belo, que se encontra ao nosso redor. É excelente podermos observar uma bela paisagem, o mar, o céu, as flores, as diversas expressões de arte, ouvir música, ler um bom livro, enfim, tudo o que a natureza que é extremamente pródiga, e o que é obra do homem, têm para nos oferecer. Às vezes precisamos de tomar alguma distância para reconquistarmos a paz interior e exterior. Como uma amiga referiu alguma vez: “O silêncio é o porteiro da vida interior”. Talvez fazer um retiro para podermos falar tranquilamente com Deus, tomar distância das situações, contar-Lhe os nossos anseios e esperanças, as nossas alegrias e tristezas, fazer um balanço da nossa vida, pedir-Lhe a Sua ajuda numa oração sincera e confiante: “Pedi e dar-se-vos-á”. Em Caminho S. Josemaria escreveu: “Recolhe-te, procura Deus dentro de ti”. Depois regressamos reconfortados com mais força para enfrentar os constrangimentos que sempre surgem e o que viver a vida acarreta. Há um ditado antigo que diz: “O que não mata torna-nos mais fortes”, ou seja, enfrentando as dificuldades ganhamos mais força e maturidade. A esse respeito, Tolstoi referiu: “Os dois guerreiros mais importantes são a paciência e o tempo”. Então estaremos em condições de observar o despontar da primavera, os pequenos milagres que acontecem nas coisas da vida e que nos ajudam a recriar a esperança. Este comentário trouxe-me ao pensamento uma conversa com um bispo conhecido com quem eu tinha comentado que no caminho, que por opção tinha feito a pé, tinha podido visualizar belíssimas flores e árvores de fruto. Na altura o bispo comentou: “Ainda bem que está disponível para observar a natureza. É um bom sinal”. Na altura não valorizei bem o teor deste comentário, mas ficou sempre latente no meu pensamento e hoje surgiu a ocasião de o partilhar.

O vento sopra, sopra às vezes com muita força, arrastando quase tudo ao passar. Depois virá um período de acalmia, menos conturbado que permite alguma reorganização. Mas o vento volta sempre. E para alguns, uma e outra vez, tornando-se necessário recomeçar. E esse vento que tudo arrasta, que transporta os nossos sonhos, as nossas alegrias, as nossas ilusões e também as desilusões, o sofrimento, as angústias. Às vezes parece que nos encontramos a fazer uma travessia no deserto em que só existe pó, não se vislumbrando o horizonte. E continuamos a caminhada em busca dos nossos sonhos perdidos, à procura da água da vida, de uma luz que indique o caminho. Mas a poeira levantada com o nosso caminhar, um dia volta a assentar, até justamente, o momento em que nós próprios nos transformamos nesse pó… Como nos recorda o sacerdote na Quarta-feira de Cinzas ao impor as cinzas sobre as nossas cabeças: “Do pó vieste e ao pó irás voltar”. Tudo isto constitui a vida a passar, sendo necessário ultrapassar diferentes obstáculos, confrontando-os com a vida de Jesus, especialmente no seu tempo da Paixão e Morte, tendo sempre presente que a nossa vida é uma passagem para a vida eterna.

Ontem uma amiga que muito admiro e que já não via há algum tempo telefonou-me a dizer que vinha a Lisboa tendo ficado combinado encontrarmo-nos para tomarmos um café e pôr a conversa em dia. Quando a vi fiquei admirada. Na verdade o tempo passa e nós somos esse espelho que refletor. Vinha a coxear de bengala. Mas o olhar e a expressão eram os mesmos. Queixou-se um pouco da idade, com razão certamente, mas referi-lhe: “Não se esqueça que tem juventude acumulada e que os nossos anos são o nosso tesouro”. Sorriu, acrescentando, que tinha deixado de parte por motivos de saúde o negócio que tanto a tinha entusiasmado. A única coisa que mantinha era o amor pela criação de uma instituição de apoio aos idosos e, como é óbvio, pela família que vive no estrangeiro. E partilhou os seus projetos, as suas ideias, sobre as relações intergeracionais, com um ar rejuvenescido, referindo um provérbio: “Se o velho pudesse e o novo quisesse, não havia nada que não se fizesse”. Comentou ainda: “Olhar para os idosos dando valor ao seu saber e experiência ajudará a nossa população a valorizar-se e ensinará os nossos jovens a envelhecer de forma positiva”.

Durante mais algum tempo continuámos a debater as questões que mais afetam as relações intergeracionais hoje em dia dando ênfase à importância de conhecer os nossos idosos pelos nomes, pelo trabalho que desenvolveram ao longo da vida humanizando assim os espaços, as histórias dos bairros, das cidades, dos países, na transmissão de valores e de saberes, ajudando-nos a refletir e a dar uma identidade vivenciada à história de cada país, tornando, por outro lado, a sociedade mais humana e solidária. Quando a minha amiga partiu, depois de termos dado umas gargalhadas com as aventuras dos netos, senti que tinha rejuvenescido, neste espaço de partilha e de troca de conhecimentos, e também recriado a esperança no futuro e nos seus projetos que são de louvar. Dei graças a Deus por este momento que tínhamos usufruído e muito da sua presença, fazendo-me acreditar ainda mais na bondade, na e na capacidade de entrega e de amar do ser humano.

Como o Papa Francisco disse: “Não desistam e não se deixem vencer às vezes pelos profetas da desgraça, ou pelo cansaço. Ninguém pode olhar para o futuro sem esperança, mas com um coração aberto à esperança, à construção, com coragem e paciência. Quando Deus vê uma alma, uma pessoa que reza por algo, Ele comove-se”.

Maria Helena Paes



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