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quarta-feira, 25 de abril de 2018

Permanecer em Cristo

Palavra e Pão 57                                                                                                              V domingo da Páscoa


1 – Que torrentes de palavras e de sentimentos se encontram e desencontram nas muitas canções de amor nossas contemporâneas! Palavras e mais palavras… que o vento leva, na sua maior parte. Que é o amor? Um sentimento de afeto ou de paixão, de necessidade imperiosa de entrega a alguém? Amemos, não com palavras nem com a língua, mas com obras e em verdade (1Jo 3,18). Estas sábias palavras da 1ª epístola de S. João, convidam-nos a amar os nossos irmãos com o mesmo amor com que Deus nos ama no Seu Filho bem-amado, com aquele amor que vai muito além dos sentimentos de afeição recíproca, mas que consiste em dar a vida por aqueles que se ama. Nisto conhecemos o amor: Jesus deu a Sua Vida por nós, e nós devemos dar a vida pelos nossos irmãos, podemos ler em outro passo da mesma epístola (1Jo 3,16).

Quem não deseja amar e ser amado? Então porque não amamos, porque não damos a vida por aqueles que se cruzam connosco? Porque não amamos verdadeiramente o próximo com obras e em verdade? Porque dar a vida é morrer para nós mesmos, e todos nós, como ensina a Sagrada Escritura, somos escravos do medo de morrer (Cf. Hb 2,15). Essa escravidão leva-nos a mentir, a roubar, a viver para nós mesmos. E se multiplicarmos as leis, elas apenas nos vão convencendo de que, por nós próprios, não as podemos cumprir pois experimentamos em nós a dura verdade que S. Paulo expressou naquelas palavras: querer o bem está ao meu alcance. Praticá-lo, não (Rm 7,18).

Por isso mesmo, é este o Seu mandamento: acreditar no nome do Seu Filho Jesus Cristo e amar-nos uns aos outros como Ele nos mandou (1 Jo 3,23). Como são luminosas estas palavras! Deus manda que nos amemos uns aos outros como Cristo nos amou, dando a Sua vida por nós, mas, primeiro, manda-nos acreditar em Jesus, manda que vivamos unidos a Ele para que, pelo Seu Espírito habitando em nós, as nossas obras sejam manifestação das suas, pois quem observa os Seus mandamentos permanece em Deus, e Deus nele (1Jo 3,24). E nós sabemos que Ele permanece em nós pelo Espírito que recebemos d’Ele e pelas obras de amor que realizamos, cumprindo os Seus mandamentos. 

2- Quem se encontra com Cristo Ressuscitado, tal como aconteceu aos dois discípulos a quem o Senhor, caminhando com eles para Emaús, aqueceu o coração com a explicação das Escrituras que a Ele se referiam, sente naturalmente o desejo de prolongar essa convivência. E expressa-o, tal como esses dois fizeram: Fica connosco, Senhor (Lc 24,29)! O Senhor ficou visível aos seus olhos, mas por breves momentos, nos quais, depois de se ter sentado à mesa e de ter tomado o pão o repartiu por eles. Reconheceram-n’O então, mas Ele desapareceu. No entanto, o Seu Espírito permaneceu neles e levou-os a percorrer novamente aquela distância de regresso a Jerusalém para poderem contar aos outros discípulos esta manifestação que eles, pessoalmente, tiveram do Senhor Ressuscitado. As manifestações de Cristo Ressuscitado levam, necessariamente aos apóstolos, à Igreja, à comunhão. E é no meio dos discípulos que o Senhor Se manifesta, e os envia a pregar ao mundo a boa notícia da Sua vitória sobre a morte e sobre o pecado, e o perdão concedido a todos.

Fica connosco, Senhor! Permanece connosco, Senhor!

3 - No evangelho de S. João que escutaremos na próxima celebração dominical, o Senhor Jesus Cristo insiste com os discípulos que devem permanecer unidos a Ele, tais como as varas de uma videira que, para crescerem e darem fruto abundante precisam de estar unidas ao tronco, à cepa. Permanecei em Mim, e Eu permanecerei em vós. (…) Se alguém permanece em Mim e Eu nele, esse dá muito fruto, porque, sem Mim, nada podeis fazer (Jo 15,4.5). Aquele que acredita em Jesus Cristo é por Ele levado ao Pai, o Agricultor que poda e limpa os membros da Videira, da Sua Videira Verdadeira que é o Corpo do Seu Verbo, para que dê fruto abundante. Como é sabido, as videiras apenas valem pelo fruto que dão. Sem Jesus, desligados d’Ele, nada podemos fazer, somos estéreis, não podemos dar fruto, não podemos amar a Deus nem o próximo porque estamos escravos do medo de morrer. Mas se permanecemos unidos a Ele pela fé, vencemos a morte e temos Vida Eterna e poderemos dar fruto abundante, podemos dar a vida e amar com o mesmo amor, com o mesmo espírito e com os mesmos sentimentos de Jesus.

Estes frutos aparecerão em nossas vidas graças à oração que nos põe em comunhão com Jesus e com o Seu Pai, buscando em tudo e sempre a Sua glória. Se o coração não nos acusa, tenhamos confiança diante de Deus e receberemos d’Ele tudo o que Lhe pedirmos (1Jo 3,21-22).

Se permanecerdes em Mim e as minhas palavras permanecerem em vós, pedireis o que quiserdes e ser-vos-á concedido. A glória de meu Pai é que deis muito fruto. Então vos tornareis meus discípulos (Jo 15,7-8).

4 – Então vos tornareis meus discípulos! Quer dizer, então seguireis os meus passos e passareis deste mundo para o Pai conduzindo convosco para Ele muitos irmãos aos quais fareis chegar, tal como Eu fiz a vós, a boa notícia de que são amados por Mim e perdoados os seus pecados.

Bendito discipulado este que nos torna fecundos no amor de Cristo e para glória do Pai, discipulado feito, queridos irmãos e irmãs, na obediência às moções do Espírito Santo! Elas nos fazem sair de nós mesmos para o Senhor, para os outros e para o mundo levando-lhe, feita carne em nossas vidas, a boa notícia do amor de Deus. Ditoso discipulado pelo qual se reproduz em nós o sair de Cristo para o mundo e do mundo para o Pai, levando connosco muitos irmãos a glorificá-l’O com as suas vidas convertidas ao amor, navegando no rio do amor que é a vida do Senhor Jesus Cristo.

+ J. Marcos



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