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sexta-feira, 20 de abril de 2018

Tornar as Boas Práticas num Padrão Modelo

O dia invernoso, o carro avariado, possivelmente sem bateria, um jogo de futebol que impedia que chamasse a assistência em viagem, face ao volume de carros estacionados, obrigou-me a alterar um compromisso anteriormente assumido, regressando a casa. O Inverno estava a fazer jus à sua estação. Sentada diante de um quadro que simbolizava “O Inverno”, recordei os inconvenientes provocados por intempéries ou acontecimentos inesperados provocados pela natureza. Há algum tempo atrás tinha organizado uma ação de formação em parceria com uma instituição internacional, subordinada ao tema “Fazer funcionar. Tornar as boas práticas num padrão modelo”. Com esta ação enriquecida através da apresentação de várias experiências e “know how” de reputadas instituições transnacionais tendo como base todo o seu trabalho desenvolvido no terreno, procurando através de um trabalho articulado em rede e em parceria promover a melhoria da qualidade de vida e o bem-estar do grupo-alvo, ou seja, populações desfavorecidas através da sua inclusão no mercado de trabalho. O encontro de Lisboa decorreu da melhor forma, acreditando que os palestrantes e participantes saíram enriquecidos deste debate, com novas estratégias a implementar ou a aferir, para além dos bons momentos de convívio e confraternização. No ano seguinte foi organizado por uma instituição espanhola na cidade de Valência, subordinado ao tema: “Educação e Formação, Enquanto Contributo para a Integração”.

Como sempre, o encontro teria a duração de dois dias. Fui convidada para participar nesta ação de formação. Sentia-me na obrigação de ir, mas tinha um impedimento no segundo dia. Ainda assim, insistiram para que participasse. Posto isto, resolvi apanhar um avião de manhã e regressar à tarde de modo a poder cumprir igualmente com a obrigação do dia seguinte, dando assim o meu contributo nos dois locais. Do que me recordo, defendi entre outros, a importância fundamental da qualificação no sentido de promover a coesão social, tema que tinha sido amplamente demostrado através dos dados estatísticos no encontro de Lisboa. O investimento na educação e na formação produz um resultado significante neste grupo-alvo. Fortalecer a educação constitui uma ferramenta fundamental, aumentando os conhecimentos chave, o desenvolvimento pessoal, contribuindo assim contra a exclusão social… Foi bom ter participado, ter revisto os colegas e a comissão organizadora apesar de ser pouco tempo. Mantinham-se os laços. Eu não sabia, mas seria a última vez que veria o presidente da organização que faleceu algum tempo depois vítima de doença prolongada. Uma pessoa extraordinária que sempre desenvolveu um trabalho árduo em prol dos mais desfavorecidos. Também desconhecia que seria a única pessoa do encontro, ao nível internacional, a deixar a cidade de Valência durante alguns dias. Despedi-me de todos, feliz por ter sido possível revê-los, ter dado o meu modesto contributo, mas com muita pena de não poder ficar durante mais tempo e usufruir em pleno do encontro, parti rumo ao aeroporto.

Quando cheguei notei alguma agitação e preocupação. Alguns voos já se encontravam atrasados ou mesmo cancelados devido a uma cinza vulcânica proveniente da geleira Eyjafjallajukull situada na Islândia, inativa há mais de 200 anos, que tinha entrado em erupção, segundo fui então informada. Fiquei muito apreensiva. Como iria regressar a Lisboa? Vi que se encontrava em fase de embarque um voo atrasado anterior ao meu. Perguntei se ainda era possível embarcar já que não tinha qualquer bagagem. Graças a Deus, pediram autorização ao comandante, o que foi concedido. Quando me vi sentada a bordo rumo a Lisboa nem queria acreditar. Mais ainda quando pisei o solo. Na verdade os desígnios de Deus são insondáveis. Seria poupada a toda uma série de constrangimentos. Esta erupção, face às cinzas libertadas, forçariam pouco depois ao encerramento do espaço aéreo europeu. As nuvens de pó estenderam-se progressivamente a vários países da Europa provocando o caos aéreo. As gigantescas colunas de fumo continuavam a sair do vulcão, não se prevendo quanto tempo poderia durar, causando uma paralisação do transporte aéreo, afetando milhares de voos. De referir que, os gases e as cinzas não só reduzem a velocidade do avião, mas também, quando entram nos reatores, podem paralisar o seu motor.

Durante os dias seguintes fui acompanhando toda a odisseia dos colegas no sentido de tentarem regressar aos seus países de origem. Os ingleses chegaram a pensar ir de barco. Na realidade, o tempo encarregou-se de resolver todas as situações, na altura angustiantes para muitas pessoas por diferentes motivos, menos o do falecimento do presidente do encontro. Veio-me ao pensamento uma frase de Henry David Thoreau: “Quando chegar a altura de partir, que não descubramos que nunca vivemos”. Tudo o que construímos fica cá, só levamos as nossas ações. A Luz veio ao mundo. Quem pratica a verdade aproxima-se da luz, para que se torne claro que as suas obras são feitas em Deus, que ama quem se entrega com alegria, de onde vem a salvação. De um Deus rico em misericórdia e perdão.

São Francisco escreveu no Cântico das Criaturas: “Louvado sejas, meu Senhor, com todas as tuas criaturas especialmente o irmão sol, que com a luz, ilumina o dia e a nós... Louvado sejas meu Senhor, pela irmã lua e as estrelas, no céu as formaste claras, preciosas e belas… bem-aventurados sejam aqueles que sustentam a paz, porque por ti, Altíssimo, serão coroados”…

Concluo este artigo num dia de inverno que permitiu que as recordações viessem ao de cima. Foi muito bom, mas fazem parte do passado. Importa agora enfrentar o futuro, em particular o dia de hoje, não esquecendo de agradecer às pessoas que nos ajudaram ao longo da vida.

Maria Helena Paes



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